Suicida-se

Desde muito tempo, já não se lembra quando, sente vontades estranhas.

O ônibus passa a centímentros de distância de seu corpo, enquanto uma voz lhe sussurra: Olhe que oportunidade boa! Continua parado na guia da calçada, ao menos para sentir o vento que a velocidade proporciona, deixando passar.
Mora no sétimo andar, e olhando a janela encara o cachorro no térreo, imaginando seu corpo estirado logo ali, ao lado dele. Uma companhia pós mortem que talvez lhe seguiria para a eternidade.
Olha para objetos pontudos, e do nada e sem razão já devaneia com cortes e perfurações em seu próprio corpo.

É um suicida frustrado. Tentou umas três vezes retirar a propria vida, porém sem sucesso. Foi a corda que não aguentou, a faca que não.cortou... Um suicida desmotivado, que não possui a capacidade para ao menos concluir o ato com primor...

Enquanto isso, planejara em alguns minutos durante seu almoço qual remedio traria o tal efeito deaejado.
No final de semana, tenta prever algum acidente, no qual ele seria o principal atingido.
Embriagado, comenta aos quatro ventos o quão interessante seria o atropelamento de um transeunte pela madrugada.

Não se sabe os motivos por esse desejo. Nem como isso começou. Nem como terminar.
Durante sua vida, continua escutando essas vozes da consciência, e transmitindo-as até o dia em que elas silenciarem, com a provável esperança que ocorra da mesma forma como iniciaram.